A História da Umbanda
Zélia e Zilméia de Morais filhas do Zélio
Caboclo das Sete Encruzilhadas
Tenda Nossa Senhora da Piedade
Trecho dos trabalhos realizado na Tenda Nossa Senhora da Piedade retirado da página do Youtube Radio Toques de Aruanda
ZÉLIO DE MORAIS E AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITUAIS NA UMBANDA
Em 1908, jovem Zélio Fernandino de Morais estava com 17 Anos e havia concluído o curso propedêutico (Equivalente ao segundo grau atual). Zélio preparava-se para ingressar na escola Naval, quando fatos estranhos começaram a lhe acontecer.
Ora ele assumia a estranha postura de um velho, falando coisas aparentemente desconexas, como se fosse outra pessoa e havia vivido em outra época, e em outras ocasiões, sua forma física lembrava um felino lépido e desembaraçado que parecia conhecer todos os segredos da natureza, os animais e as plantas.
Este estado de coisas logo chamou a atenção de seus familiares, principalmente porque ele estava se preparando para seguir carreira na Marinha, como aluno oficial. Esse estado de coisas foi se agravando e os chamados “ataques” repetiam-se cada vez com mais intensidade. A família correu então ao médico Dr. Epaminondas de Morais, também da família, diretor do Hospício da Vargem Grande e Tio de Zélio.
Após examiná-lo e observá-lo durante vários dias, reencaminhou a família, dizendo que a loucura não se enquadrava em nada do que ele havia conhecido, ponderando ainda, que melhor seria encaminhá-lo a um padre, pois o garoto mais parecia estar endemoniado. Como acontecia com quase todas as famílias importantes da época, também havia na família um padre católico. Através desse sacerdote, também tio de Zélio, foi realizado um exorcismo para livrá-lo daqueles incômodos ataques. Entretanto, nem esse nem os dois outros exorcismos realizados posteriormente, inclusive com a participação de outros sacerdotes católicos, conseguiram dar a família Morais o tão desejado sossego, pois as manifestações prosseguiram, apesar de tudo. A partir daí a família passou a correr atrás de toda e qualquer melhora, ou melhor informação que lhe trouxesse a esperança de uma solução para seu filho querido.
Um dia alguém sugeriu que isso era coisa de espiritismo e que o melhor era encaminhá-lo á recém-fundada Federação Kardecista de Niterói, município vizinho aquele que residia a família Morais, ou seja, São Gonçalo das Neves. A federação era então presidida pelo Sr. Jose de Souza, chefe de um departamento da marinha chamado Toque Toque.
O jovem Zélio foi conduzido a 15 de novembro de 1908, à presença do Sr. José de Souza. Estava num daqueles chamados ataques, que nada mais eram do que incorporações involuntárias de diferentes espíritos; e lá chegando, o Sr. José de Souza, médium vidente, interpelou o espirito manifestado no jovem Zélio e foi aproximadamente este o dialogo ocorrido:
Sr. José: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?
O Espírito: Eu? Eu sou apenas um Caboclo brasileiro
Sr. José: Você se identifica como um caboclo, mass eu vejo em você restos de vestes clericais.
O Espírito: O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida e, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas, em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.
Sr. José: E qual é o seu nome?
O Espírito: Se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o Caboclo das sete Encruzilhadas, pois para mim não existirão caminhos fechados. Venho trazer a Umbanda, uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos.
No desenrolar dessa “Entrevista”, entre muitas outras perguntas, o Sr. José de Souza, teria perguntado se já não bastariam as religiões já existentes e fez menção ao espiritismo então praticado e foram estas as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas: “Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornaram iguais na morte, mais vocês homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferença entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo da barreira da morte. Porque não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na terra, também trazem importantes mensagens do além? Por que o não aos Caboclos e Pretos Velhos? Acaso não foram eles também filho do mesmo Deus? ”
Prosseguindo diante do Sr. José de Souza disse ainda o Caboclo das sete Encruzilhadas: “Amanhã, na casa onde o meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independentemente daquilo que haja sido em vida e todos serão ouvidos e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois está e a vontade do pai”
Sr. José: E que nome darão a esta igreja?
Caboclo das Sete Encruzilhadas: TENDA NOSSA SENHORA DA PIEDADE, pois da mesma forma que MARIA ampara nos braços o filho querido, também serão amparados os que se socorrerem na Umbanda.
A denominação de “Tenda” foi justificada assim pelo Caboclo: Igreja, Templo, Loja dão um aspecto de superioridade enquanto que tenda lembra uma casa humilde.
Desta forma em São Gonçalo das Neves, vizinho a Niterói, do outro lado da Baía de Guanabara, na sala de jantar da família Morais, um grupo de curiosos Kardecistas compareceram no dai 15 de novembro de 1908 para ver como seriam estas incorporações, para eles indesejáveis ou injustificáveis. O diálogo do Caboclo das Sete Encruzilhadas, como passou a ser chamado, havia provocado muita especulação e alguns médiuns que haviam sido escorraçados da mesa de Kardecistas, por haverem incorporados caboclos, crianças ou pretos velhos, se solidarizaram com aquele garoto que parecia não estar compreendendo o que lhe acontecia e que de repente se via como líder de um grupo religioso, obra essa que deveria durar a sua vida e que só terminaria com a sua morte, mas que suas filhas Zélia e Zilméia prosseguem com o mesmo afã.
A Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Piedade existe até hoje. Seu patrono segue sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Seu endereço é Rua Dom Gerardo, 51, Rio de Janeiro – próximo ao cais das barcas para Niterói.
A Tenda Nossa Senhora da Piedade é reconhecida hoje como a primeira Tenda de Umbanda e a data de 15 de novembro de 1908 é reconhecida como a data da fundação oficial da Umbanda.
Uma comprovação da existência do Frei Gabriel Malagrida pode ser feita no livro de Henrique José de Souza, “Eubiose – A Verdadeira Iniciação”
Texto tirado do livro Iniciação a Umbanda, a magia da Paz - Diamantino Fernandes Trindade (Contato do texto Ronaldo Linares)
CURIOSIDADE
Após a incorporação do Caboclo das Sete Encruzilhadas o mesmo disse que iria subir para par passagem a outra entidade que desejava se manifestar. Assim, se manifestou no corpo de Zélio de Morais, o espírito do velho ex escravo, que parecida demonstrar sentir-se pouco a vontade perante a tanta gente, e que recusando-se a permanecer na mesa onde se dera a incorporação procurava passar despercebido, humilde, e curvado, aparentando muita idade e aparentando o corpo curvado, o que dava ao jovem Zélio um aspecto estranho, quase irreal. Essa entidade parecia tão pouca a vontade que logo despertou um profundo sentimento de compaixão e de solidariedade entre os presentes.
Perguntando então porque não se sentava a mesa, com os demais irmãos encarnados, respondeu: “Negro num senta não meu sinhô, negro fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco i negro deve arrespeitá”
Era a primeira manifestação desse espírito iluminado, mas a morte não retoca seu escolhido, mudando-o para o bem ou mal, não havia afastado desse injustiçado o medo que ele tantas vezes havia sentido antes a prepotência do branco escravagista e, antes a insistência de seus interlocutores, disse: “Num carece preocupa não, negro fica nu toco que é lugá di negro” Procurava assim, demostrar que se contentava em ocupar um lugar mais singelo, para não melindrar nenhum dos presentes.
Indagado sobre o seu nome disse que era “Tonho” e que era ”Pai Antônio” surge assim essa forma de chamar os Pretos Velhos de “Pai” Perguntou de como havia sido a sua morte, disse que havia ido a mata apanhar lenha, sentiu alguma coisa estranha, sentou-se e nada mais se lembrava.
Sensibilizado com tanta humildade alguém lhe perguntou respeitosamente: “Vovô”, o senhor tem saudade de alguma coisa que deixou ficar na terra? E este respondeu “Minha cachimba. Negro qué o pito que deixou no toco...Manda muréque busca. ” Grande espanto tomou conta dos presentes. Era a primeira vez que algum espírito pedia alguma coisa de material e a surpresa foi logo substituída pelo desejo de atender o pedido do velhinho.
Na reunião seguinte, muitos pensaram no pedido e uma porção de cachimbo dos mais diferentes tipos apareceu nas mãos dos frequentadores da casa, incluindo-se alguns médiuns que haviam sido afastados de centros espíritas Kardecistas justamente porque haviam permitido a incorporação de índios, pobres ou pretos como aquele e que solidários buscavam nova casa, a Tenda Nossa Senhora da Piedade, e oportunidade que lhes fora negada em seus centros de origem.
A alegria do velhinho, em poder pitar novamente o seu cachimbo, logo seria repetida quando os outros médiuns já mencionados também passaram livremente a permitir a presença de seus caboclos, de seus pretos velhos e demais entidades.
Atualmente sabe-se que o uso do fumo pelas entidades incorporadas tem o efeito purificador quando estas atendem alguma pessoa com problemas espirituais. A fumaça age como um desagregador de maus fluidos atingindo o perispírito dos espíritos obsessores.
Estes médiuns começaram a enriquecer o ritual umbandista com práticas de Candomblé conhecidas por eles, sincretismos dos Orixás com os santos católicos etc.
Foram introduzidos assim, comidas de santo, atabaques, agogôs e outros instrumentos musicais etc. Este fato ocorreu com as tendas nascidas da Tenda Nossa Senhora da Piedade pois nesta, nunca foram utilizados atabaques ou palmas.
Outros fatos determinantes de raça negra no candomblé são as oferendas. (Obrigações aos Orixás)
Texto tirado do livro Iniciação a Umbanda, a magia da Paz -Diamantino Fernandes Trindade (Entrevista feita por Ronaldo Linares), Imagens da Internet
Zélio Fernandino de Morais
Zélia e Zilméia de Morais filhas do Zélio
Caboclo das Sete Encruzilhadas
Tenda Nossa Senhora da Piedade
Trecho dos trabalhos realizado na Tenda Nossa Senhora da Piedade retirado da página do Youtube Radio Toques de Aruanda
Nenhum comentário:
Postar um comentário